Teoria social, narrativa e evolução
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Teoria social, narrativa e evolução

Universidade Estadual de Campinas UNICAMPInstituto de Estudos da Linguagem IELForum de discussão para disciplina de Pós-graduação em Lingüística.


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3. Narrativas como suporte ou resultado de uma teoria da mente

4 participantes

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(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Gostaria de correlacionar dois dos textos principais para esta sessão.

No texto de Brian Boyd, "Understanding and recalling events" (Capítulo 10 do livro On the Origin of Stories), Boyd desenvolve a hipóteses de que é preciso possuir com antecedência uma "teoria da mente", capacidade de atribuir estados mentais (emoções, desejos e intenções aos outros) para que os indivíduos possam reconhecer, compreender e organizar eventos. Isto é, é preciso uma teoria da mente para a geração de narrativas.

Já, o artigo de Daniel Hutto, "Folk Psychology as a Narrative Practice" expõe a tese contrária, segundo a qual, a teoria da mente, relacionada especialmente com desejos e intenções, só pode ser o resultado de um treinamento prático (aprendizagem social) por meio de narrativas.

Poderíamos classificar as duas posições, em termos brutos, como sendo mais inatista a primeira e mais associacionista ou empiricista a segunda.

Quais são suas primeiras colocações ao respeito?

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Luna



Professor, volto a fazer meu comentário sobre os textos:
Acredito que os textos de Boyd e Hutto se opõem totalmente, inclusive fazem usos opostos de argumentos parecidos: enquanto Boyd afirma que a capacidade de compreensão de estados mentais (Teoria da Mente) é inata exatamente porque o ser humano passou a se importar mais com o outro (por isso tal capacidade está num patamar mais alto no ser humano em relação aos animais), já Hutto afirma que a dificuldade de entender que o outro pensa de modo distinto (comprovado nos resultados dos experimentos apresentados nos três textos) é justamente uma consequência da capacidade de atribuição de sentido, que por sua vez, deriva de um treinamento social (narrativas), o que ele chamou da ênfase na narrativa na página 35, estou certa?

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Sim, Luna. Basicamente, esse são os termos do debate.

Hutto acredita que uma teoria da mente pre-linguística e pre-narrativa só se entenderia com inferências básicas, relacionadas por exemplo a reconhecimento facial de emoções, porém não a inferências de segundo grau como a atribuição de sentido e de desejos, por não falar de atribuição de sistemas de crenças ou valores.

Já, Boyd, entende tanto a teoria da mente quanto a narrativas como resultados evolutivos que, claro, são aprimorados pelas interações contextuais, mais sem os quais operações sofisticadas de inferência seriam impossíveis.

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Joana Gomes



Complementando o que foi dito por Luna, não apenas a dificuldade de entender, mas também a necessidade de ser entendido fez com que o ser humano passasse atribuir sentido aos acontecimentos, mostrando que a cultura e os papeias sociais têm um papel fundamental no pensamento humano. É através das relações socioculturais que se constituem o funcionamento da mente humana . Sem a cultura e a relações sociais seria difícil construir uma narrativa. Certo, professor?

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Correção: "inferências de segundo grau como atribuição de intenções e desejos"

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Emerson



Essas teorias se complementam? A teoria dos estados mentais é inata (Hutto), mas 'evolui' a partir de experiências sociais (Byod). Seria isso?

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Joana, porém, experimentos como os de Heider and Simmel mostrariam que sem uma predisposição à atribuição de agência como causa de eventos subsequentes, os conteúdos culturais não poderiam se organizar em narrativas. O que você acha?

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Luna



Acho que as teorias podem se complementar, Emerson, mas na verdade é Boyd que acredita que tal capacidade seja inata, só que ele não desconsidera o contexto, já Hutto descarta que seja algo inato, certo?

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Emerson,

No caso de Hutto, ele só reconheceria como innata teorias da mente relacionadas com reconhecimento de percepções, sensações ou emoções. Porém, associar ações com razões, já só pode ser um resultado de aculturação. E, sim, o artefacto cultural que teria protagonismo nessa tarefa seriam os relatos.

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Luna



Em relação ao vídeo, eu pensei: ok, atribuímos sentido a duas figuras geométricas, mas não seria possível que façamos isso tanto por uma predisposição, mas também porque fomos treinados a isso desde que nascemos, então virou algo "automático". Portanto, acredito que pode ser inato, o que mais dá argumento para isso é o fato de os animais terem essa capacidade, só que de maneira mais rudimentar, mas é cultural também, é claro.

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Tal vez, a questão mais delicada para Hutto seja aceitar que a teoria da mente tenha traços evolutivos que compartimos com outras espécies. Porém, evolução não é exatamente inatismo, isto é, também introduz o contexto como variável. Nesse sentido, concordo com Luna.

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Joana Gomes



Enfatizei bastante ao falar sobre a cultura, mas acredito que a teoria de Boyd é mais completa, pois não só acredita na influência cultural para as narrativas como também considera que seja uma capacidade inata do ser humano.

Luna



Sim, acho que o texto de Hutto é um pouco mais radical, na minha opinião, mesmo que no texto de Boyd ele não aborde tão a fundo a questão cultural, acho complicada descartar totalmente o fator biológico. Agora entendi como o evolucionismo entra nisso, ficou mais claro. Concordo com a Joana.

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Luna,

Esse treinamento, segundo Hutto, se daria em narrativas específicas de "segunda pessoa". Isto é, narrativas nas quais o agente que realiza a ação é diretamente interpelado para oferecer razões na forma de ações. Por exemplo, a través de um pergunta como "o que foi exatamente o que passou"?

Por outro lado, essas narrativas respondem a ação que, digamos assim, "gritam" por uma explicação. Isto é, que saem do sentido comumente atribuído a ações singulares.

Essa descrição do treinamento cobriria a explicação para a disposição a reconhecer agencia em innúmeros casos que não são explítiamente ações, como os das figuras?

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Joana Gomes



O ser humano evoluiu, diferenciando-se dos outros animais, e os contextos sociais e culturas ajudam para as construções narrativas. Seria isso, basicamente?

Luna



Eu acredito que sim, professor, porque quando vemos o vídeo, é como se alguém nos fizesse uma pergunta: o que está acontecendo no vídeo? E então criamos a narrativa. Não é?

Emerson



Quando li os dois textos, me lembrei do caso de Kaspar Hauser. Por mais que ele tivesse nascido com essa predisposição a compreender o outro e o mundo, ele só conseguiu fazer ao sair do isolamento e manter contato com o mundo exterior. Logo acho que o processo de aculturação tem um peso maior.

Luna



Existe uma dificuldade em não atribuir sentido ao que vemos, um bom exemplo disso é quando vemos filmes que fogem de narrativas comuns e ficamos tentando entender de qualquer maneira o que está acontecendo, mas às vezes o filme foi produzido com a intenção de deixar que as pessoas façam quaisquer inferências sobre ele, mas ainda sim, buscamos pela resposta "certa". O que demostra também como a hermenêutica influenciou nisso, como se sempre houvesse uma interpretação mais correta de algo.

Eu acho que o processo de aculturação tem um peso maior também, porque diferente dos animais, vivemos em sociedade. O exemplo do Kaspar Hauser é ótimo.

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Joana,

o ser humano evoluiu diferenciando-se de outro animais, porém também, conservando traços de outros animais. As variações e estabilidade dos traços devesse segundo à própria teoria às demandas do ambiente. O interessante aqui, não para desenvolver hoje é como, se possível, integrar o conceito de cultura no conceito de evolução.

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Joana Gomes



Entendi, professor.

Luna



Entendi melhor agora também.

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Emerson,

sim, imagino que predisposições de atribuição, sem os próprios objetos aos quais eles remetem, só são abstrações. Agora, não sei se uma teoria sofisticada dessas predisposições as veja como sempre em um vácuo cultural.

Um outro exemplo muito interessante é a película Room. Não sei se já assistirem, sobre um menino que cresce fechado em um quarto com sua mãe sem poder sair até os cinco anos.

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(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Porém,

Com os elementos presentes no quarto, ele desenvolve uma complexa teoria da mente, que depois tem que ajustar ao contexto maior do afora.

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Luna



Nunca vi o filme, mas já ouvi falar, parece interessante. Professor, 17h15 tenho um compromisso, será que estamos encerrando nossa discussão por hoje? Desculpe a pressa.

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Luna,

Existem animais sociais e que tem desenvolvido formas de cultura.

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