Teoria social, narrativa e evolução
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Teoria social, narrativa e evolução

Universidade Estadual de Campinas UNICAMPInstituto de Estudos da Linguagem IELForum de discussão para disciplina de Pós-graduação em Lingüística.


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2. Variações por níveis em narrativas solicitadas.

5 participantes

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(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Este é um tópico exploratório. Espero se entenda.

Alguns de vocês expressaram que, ao trabalhar na temática da mudança linguística, é possível se defrontar com narrativas espontâneas produzidas por sujeitos a través de entrevistas.

Supondo que essas narrativas se apresentem em diferentes níveis, segundo a classificação feita no vídeo: 1. Sequências de ações 2. Mundos ficcionais simples (inserir ações e sequências em entornos regulados) 3. Mundos ficcionais complexos (comparação de ações em diferentes entornos),

vocês achariam que seja possível observar mudanças do valor linguístico de determinado elemento dependendo do nível de construção narrativa?

Por exemplo, determinada característica fonética que parece funcional à representação de uma ação realizada por determinado personagem para atingir determinado objetivo, pode ter um sentido diferente se o narrador enriquece a sua história dando detalhes de certas regulações sociais do entorno em que a ação se desdobra? Ou ainda, se o narrador compara ações análogas em diferentes entornos?

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Luna



Fui no tópico errado, desculpa, pessoal.

Luna



Agora sim, né?

Luísa Haddad Labello



Eu não faço entrevistas na minha pesquisa, mas eu penso que sim, principalmente no que diz respeito a contextos mais formais e informais, se o narrador modificar o contexto, por exemplo.

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Estamos? Me seguem na questão?

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Luna



Acho que é possível observar mudanças linguísticas conforme os níveis de construção da narrativa sim, seria uma variação linguística motivada por diferentes temas abordados nas entrevistas. Na verdade, o tempo todo a nossa fala apresenta variações de ordem difícil de determinar, nem tudo o que produzimos pode ser explicado por nossa classe social, gênero, etc. Por exemplo, meu orientador já me mostrou dados em que em um dos sujeitos entrevistados produz a pronúncia do r de forma diferente como fez na maior arte das vezes em que pronunciou tal som, ele fez isso no momento em que falou do pai, que já faleceu. Pode ser que exista algo aí, talvez houve uma mudança linguística na fala do narrador ao fazer referência a um dos membro do entorno familiar o qual ele pertence, mas são apenas hipóteses. Mas eu acho difícil determinar os níveis da construção da narrativa em uma entrevista, posso estar falando bobagem.

Luísa Haddad Labello



Então, eu pensei na questão da imitação também, o entrevistado tentar imitar uma propriedade linguística que o entrevistador está utilizando.

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Entendi, Luísa.

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Luna



Sim, faz muito sentido isso, Luísa.

Emerson



Professor, nessa última semana, estive tentando entender a aplicação do termo 'narrativa' para este curso, principalmente depois dessas últimas leitura, e cheguei à conclusão de que ele se distancia, em certo ponto, da narrativa que é utilizada da Sociolinguística, por exemplo. Explico. Nessa discussão, percebo o uso da narrativa como um construto ficcional, isto é, ele imita o real, mas não tem 'responsabilidade' (muito delicado falar isso) sobre ele. Por sua vez, na Sociolinguística, o que prevalece é a narrativa enquanto uma sequência de fatos reais ou, pelo menos, que apresentam o máximo da realidade das pessoas.

Luna



Sim, o Emerson tem razão, são depoimentos. Por mais que exista uma performance dos entrevistados, são narrativas com intuitos diferentes.

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Luna, sim. É uma pergunta exploratória e me pergunto que tão difícil é distinguir esses níveis. Se podem se distinguir marcadores linguísticos para isso. Pero penso, também em construções centradas em ações isoladas que acontecem, por exemplo, ao próprio narrador. Ou narradores que aprofundam na criação de entornos e conseguem por exemplo levar à superfície determinadas regras sociais. Isso afetaria a análise dos elementos linguísticos que são objeto da pesquisa?

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Luna



Talvez afete, não sei. Mas não sei se o nível de criação da narrativa é o fator mais influente na variação linguística. Consigo pensar em exemplos quando as pessoas falam da própria maneira de falar e diante disso alterações são percebidas na fala do entrevistado, mas seria uma questão de policiamento da fala, né.

Luísa Haddad Labello



Mas se tomarmo como exemplo a fofoca, não seria uma narrativa que narra algo que seria possivelmente real?

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Entendo, Emerson. Para distinguir, ficções é um tipo de narrativas que não têm compromisso com a realidade dos contadores ou ouvintes, como você diz. Porém, estrategias de produção narrativa podem ter elementos transversais a esses diversos tipos de relatos (orais, crônicas, testemunhas ou ficções eleboradas). Em certa maneira, Boyd e outros tenta encontrar esses elementos universais que funcionam com independência do tipo de narrativa produzida. As representações de fatos reais, seja nas narrativas de participantes nos fatos reais ou nas narrativas históricas devem ao igual que as narrativas ficcionais lidar com a organização da informação dos seus elementos (intriga, situações e mundos). Eles devem criar, por exemplo, uma ordem causal para as sequencias de eventos que estão narrando. No meu ver, qualquer narrador pode construir sua história em diversos níveis, seja em relatos orais ou em ficções

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Joana Gomes



Concordo com Luisa. Mas lendo os comentários de Emerson e Luna, fiquei confusa... não sei se o que vou dizer faz tanto sentido, mas acredito que nas narrativas em que o falante descreve uma sequência de ações, como descrever uma brincadeira que fazia na infância, falará de forma mais natural, sem monitoramentos. Em muitas entrevistas pedimos para o informante fazer esse tipo de narrativa, descrever as brincadeiras que fazia e neste momento ele fica bastante descontraído, mostrando-nos expressivamente suas variantes linguísticas. Acho que esse seria um exemplo de narrativas menos complexas.

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

E acho que as narrativas sobre fatos reais são igualmente "ações imitadas".

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(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Perdão, a que se referem exatamente com policiamento da fala?

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(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Luísa, acho muito bom seu ponto. Acho que até as narrativas mais diretamente envolvidas na realidade implicam um tipo de construção ficcional.

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Luna



Policiamento de fala seria prestar atenção na maneira como se está falando, em casos em que isso é extremo, o falante corrige sua fala, adequando-a para uma modalidade considerada mais formal, por se sentir avaliado, por exemplo.
Hum, acho que o que a Joana falou é verdade. É muito comum isso realmente. E como o professor disse, os depoimentos não deixam de ser narrativas de si. Fiquei pensando, há a questão da memória também, né? Porque quando os entrevistados falam do passado, há uma seleção de eventos a serem relatados e isso de certa forma diz muito da maneira como percebemos o mundo, fazemos não apenas inferências e previsões para o futuro a partir das narrativas, mas também avaliamos o nosso passado, o que por sua vez, afeta o presente.

Luísa Haddad Labello



Sim, também acho!!

Emerson



Bastante esclarecedor, Ernesto. Então o ato de narrar a sua realidade já é, por si, a imitação (e não mais a realidade) do que ele viveu.

Joana Gomes



O policiamento está relacionado ao monitoramento da fala com o intuito de seguir a norma padrão da língua. Os informantes, inicialmente, não ficam relaxados, tentam controlar as variantes que estão usando.

Emerson



Essa explicação do Ernesto me fez lembrar de uma obra surrealista de Magritte na qual ele havia pintado um cachimbo e logo abaixo tinha como texto "Ceci n’est pas une pipe" (Isto não é um cachimbo). Desse mesmo modo, quando o entrevistado, numa pesquisa sociolinguística, expõe fatos de sua vida, já não é mais a sua realidade, mas a representação do que ele viveu.

(Juan) Ernesto Mora

(Juan) Ernesto Mora
Admin

Luna, Joanna, Emerson. Paul Ricoeur em Tempo e narrativa e em outros textos fala como toda narrativa é, em primeiro lugar, uma seleção de ações organizadas com certa ordem (causal, analógica, metafórica, etc.) que lhes outorga um sentido novo. Sem essa ordem as ações relatadas seriam somente ações dispersas na vida dos contadores. São os contadores os que lhe outorgam um sentido mediante a organização, as conexões funcionais que criam entre elas. Pensem ao chegar à casa e relatar o que fizeram durante o dia para as pessoas com quem vocês moram. É preciso fazer uma seleção de eventos e lhes dar uma ordem para que façam sentido.

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